29.12.06

Inspiração

A motivação de criar este novo blog é a mais pura inveja pelas pessoas que escrevem e sabem escrever (ponto e vírgula, só vírgula ou um "e" bastava?). E este blog vai ser o mais triste e sádico exercício de alguém a tentar imitar as pessoas que escrevem.

Não há prazer maior do que escrever, e não há compreensão melhor, ou incompreensão, do que ter escrito e ter lido e relido, ou o espanto da primeira vez que lemos algo que realmente nos agrada e nos deixa a pensar o que raios vai naquela cabeça. É um entendimento diferente, e de certeza que é uma expressão diferente. As palavras, as pausas e as frases, sem sorrisos, sem olhos, sem distância. Tenho a certeza que os "escritores" se percebem muito melhor do que nós a eles, e eu quero saber disso.

Fora a história do prazer, porque por aí há outros caminhos, a minha maior motivação para escrever são as pessoas próximas que escrevem. Por muito que leia, acho que sem elas nunca ia tentar. Maricas, é esse o nome. O das pessoas próximas é Rita e Sívél, e vá, um ou outro amigo de amigo que de vez em quando batem com mais força.

Eles podiam nem escrever, mas tá na cara, há que expressar.

Se alguém já leu o Blink, ouve uns malucos que se dedicaram a estudar os músculos da cara, e depois descrever minuciosamente todas as expressões faciais possíveis. Eu aposto que há pelo menos uma expressão facial que só se consegue depois de ler alguma coisa que realmente nos satisfaz. A minha melhor reconstituição consiste em agarrar num elástico fazer um tótó no alto da cabeça e semi-cerrar os olhos. (sim, já fiz isto)

É aquele momento em que dizemos: "Não quero mais, estou satisfeito, ensinaram-me o suficiente." O suficiente, para nos encostármos à cadeira, procurar os braços, à falta de melhor e olhar à volta para ver se as quatros paredes se afastaram ou se aproximaram. É quasi-orgásmico, mas passa e a seguir percebes que alguém te enganou. É sempre assim, as paredes estão no mesmo sítio e tu vais ter que ler mais. São os gajos que escrevem (incluindo aqui todas as maravilhosas gajas que escrevem, nunca mais duvidem).

Já alguma vez se aproximaram de um microfone e falaram?

27.12.06

Oi!

E começo outro blog. Sou amigo de ler, ídolo de quem escreve, devoro o que me oferecem e releio o que escrevo.

Outro porque o último começou assim:
"Ínicio (com acento no início é claro!)
Letras brancas no escuro, tijolos sobre tijolos, muros para as pessoas saltarem."

Não está mau, ainda por lá estão o resto dos posts, FestadoPreconceito , tal como este, a urgência de escrever começou em setembro, e concretizou-se em dezembro. O Verão acaba, as tardes compridas ainda estão mais que boas, a piscina estala e as pessoas do Verão esquecem-se umas das outras. Depois vem o Técnico, como o Inverno, não se sabe se havemos de gostar de aproveitar os últimos raios de sol, se devemos considerar vida encerrarmo-nos em algum sítio a fugir do frio. O reencontro com os colegas de fac no fim do Verão é sempre excepcional, e quando chega a vez de aquela pessoa que diz "Tomara já começar a chover, não há nada melhor do que estar no quentinho a ouvir a chuva cair." é este gajo que gosta do Técnico não é??

O Inverno é para mim imprescindivélmente depressivo, apanha-me sempre de surpresa, e desconfio que desisti de gostar dele, a vida está cheia dessas coisas menos boas que não precisam de nos fazer feliz. Estranho que só escrevo de Inverno também, o que a juntar à falta de segurança me faz parecer uma beca tótó, não faz?

Eu aposto que a culpa não é dos outros meses, a culpa é mesmo destes, a família, os amigos e o Natal. O passagem de Ano é a coisa mais mal combinada de sempre, porque fica sempre em má altura, é arranjar maneira que todos os nossos níveis estejam ao máximo para depois cair de pára-quedas no novo ano, com a determinação para mudar o que está errado. O que está errado?? O que é que está errado? A passagem de ano é arranjar maneira que a nossa cabeça fique inapta para pensar até setembro, só então voltamos a conseguir reflectir.

Andar entre Moura e Lisboa faz-me bem, é bom esquecer, é melhor surpreender e ser surpreendido, é como quando se escreve e se guarda, e depois se volta a ler. E é bom ficarmos com a noção de quem somos, chocarmos com o rídiculo ou relembrar uma dica mesmo boa que se perdeu.

Mau é as coisas ficarem a meio, é o que mais me chateia por agora, ando a meio de quase tudo ultimamente. É preciso verificar, confrontar, fazer constatar, perguntar, são as coisas que não faço muito, ou que devia fazer mais. Em relação a este blog, já me precavi, tenho a pasta dos rascunhos bem cheia, muito mais novelas para contar e desta vez uma personagem real para encarnar. Mesmo que a passagem de ano me conforme o suficiente para me manter calado acho que desta é de vez.

Óbviamente que esta conversa vinda de quem vem é chover no molhado, mas desta vez sinto-me muito mais nu, e acho que era disso que estava a precisar. O objectivo do blog é juntar os queridos e as queridas que merecem, e agradecer àqueles que já escrevem e que dão a disfrutar. Mas se nos primeiros dias de 2007 não tiver já cartas de amor, propostas de emprego, acordares com pequeno almoço e propostas de viagem com desconhecidos no meu mail, isto vai tudo por água abaixo é claro.