"Diante do Amor está um porteiro. Um homem aparece e pede para entrar. O porteiro não autoriza. O homem pergunta se pode entrar mais tarde. O porteiro diz que talvez. O homem espreita pela porta aberta. O porteiro desafia o homem a tentar entrar, avisando que depois dele estão outros guardas, cada vez mais fortes. O homem desiste. O porteiro oferece uma banqueta ao homem, para que ele espere sentado. Espera anos e anos. Tenta súplicas e subornos. O porteiro aceita os subornos, «para que não penses que houve alguma coisa que não tentaste». Mas não deixa o homem entrar. No fim da vida, o moribundo faz ao porteiro uma pergunta que nunca fez: «Se todos aspiram ao Amor, porque é que durante todos estes anos mais ninguém tentou entrar?». O porteiro responde: «Aqui não podia entrar mais ninguém, porque esta porta era só para ti. E agora vou fechá-la»." in Estado Civil.
Ao homem que odeio pedia-lhe para explicar isto:
"Nikolai Bukharin, um dos principais teóricos marxistas e líderes bolcheviques, dirigiu o Pravda durante 20 anos e foi amigo de Lenin e Stalin. Quando divergiu deste último em matéria de política económica foi posto à margem e mais tarde acusado de traição e julgado num tribunal fantoche. A 10 de Dezembro de 1937 escreve da prisão uma carta pungente e suplicante ao seu «amigo»:
«Não guardo rancor a ninguém, nem estou amargo. Não sou cristão mas tenho os meus truques. E se queres realmente saber, mais do que tudo sinto-me oprimido por um facto que talvez tenhas esquecido: uma vez, provavelmente no Verão de 1928, estava em tua casa e tu disseste-me: “Sabes porque te considero meu amigo? É que tu não és capaz de intrigas, pois não?”. E eu disse: “Não, não sou”».
Bukharin foi executado três meses depois, a 15 de Março de 1938. Stalin garantiu-lhe: a execução não significava «nada contra ti pessoalmente»." in Estado Civil.
Ao Homem que admiro pergunto como pode ele descobrir-me assim:
"O sentido do ridículo
As pessoas com grande sentido do ridículo (é o meu caso) são imensamente atreitas ao ridículo (é o meu caso)."
"A sinceridade
Quero sempre sinceridade completa e depois fico a repisar certas frases sinceras como se fossem punhaladas."
Com esta figura?
